''Faltava abandonar a velha escola...'' - O fim do tempo escolar e os riscos da infantilização da loucura.
AUTORIA
Izabel Abreu , Daniel Amiro Basilio Gonçalves , João Pedro Padula , Marina Akkerman
ABSTRACT
O GIP (Grupo de Invenção e Pesquisa) é uma instituição, orientada pela prática entre vários, que atende adolescentes e jovens autistas e psicóticos. No GIP não há uma atividade proposta de antemão pelos profissionais. Trata-se de uma oficina de vazio, que se define pela abertura às contingências do encontro. Cada interventor oferece sua presença e sua disponibilidade para acompanhar o sujeito em seus interesses mais singulares. Leo chega ao GIP em 2013 aos 15 anos. Nesse mesmo ano vivia a saída da escola regular e a entrada numa escola especial. Alguns anos mais tarde Leo assiste seus colegas de GIP saindo da escola, frequentando outros espaços sociais e num processo de ganho de autonomia na circulação pela cidade de São Paulo. Além disso, fica atento à chegada de estagiários da mesma idade que ele. A partir disso, Leo começa uma intensa pesquisa sobre as diferentes faixas etárias, cria categorias (bebê, criança, pré-adolescente, adolescente, jovem, jovem adulto, velho). Procura definir as características e os semblantes correspondentes a cada um desses grupos na tentativa de se situar no tempo e armar novas identificações. Adolescente? Jovem adulto? Um adolescente pega ônibus e metrô sozinho? Um jovem adulto vai à escola? Aos 20 anos Leo segue na escola especial. Sua condição subjetiva e suas dificuldades no laço social inviabilizam a ida para uma faculdade, caminho habitual em sua família para fazer essa passagem da adolescência à fase adulta A impossibilidade de ir para a faculdade deixa Leo frente ao impasse. Como crescer? Como se fazer um jovem adulto? Numa ida ao Karaokê, Leo canta: ''Faltava abandonar a velha escola, tomar o mundo feito Coca-Cola…''. Passa a sinalizar que quer andar de ônibus e vir sozinho ao GIP. O objetivo deste texto é, a partir deste caso clínico, discutir os riscos da infantilização da loucura e da infinitização do tempo escolar em casos como os de Leo e as invenções singulares de sujeitos autistas e psicóticos para sair da infância.
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