HANSENÍASE E A COBERTURA DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Modelo de Atenção Básica em Saúde

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Certificado de publicação:
Certificado de Isabelle Aparecida de Sousa Bernardes

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AUTORIA

Rafaela Cristina Moreira , Isabelle Aparecida De Sousa Bernardes , Maini Aparecida De Freitas Gomes , Rayssa Nogueira Rodrigues

ABSTRACT
Introdução: A hanseníase é uma doença que aflige a humanidade há anos, causada pelo Mycobacterium leprae. Além disso, é uma patologia infectocontagiosa de evolução crônica, possui alta infectividade e baixa patogenicidade, acomete os nervos periféricos, pele e mucosas e sua transmissão ocorre por meio de gotículas e/ou aerossóis. Quando a hanseníase não é diagnosticada e tratada precocemente pode causar complicações, como incapacidades e deformidades (ARAÚJO, LANA, 2020; COSTA et al, 2019). Com o intuito de prevenir, controlar a hanseníase e direcionar o atendimento ao paciente e a doença em questão, são direcionadas estratégias para que se alcance a redução de casos novos, dentre elas: educação em saúde, prevenção e tratamento de incapacidades, diagnóstico e tratamento até a cura, investigação e vigilância epidemiológica, exames de contatos e a vacinação de Bacillus Calmette-Gue?rin (BCG) dependendo da situação (LEITE et al, 2019). Cabe destacar, que o enfermeiro que atua na Estratégia de Saúde da Família (ESF) ocupa um espaço essencial na implementação de ações diante o controle da hanseníase, sendo  principalmente no cuidado direto ao paciente, coordenação do processo de trabalho, educação em saúde, capacitação de sua equipe (ARAÚJO, LANA, 2020). Em relação a situação epidemiológica, o Brasil é o segundo colocado em número absoluto da doença. Em 2018, o país registrou 28.860 casos novos (WHO, 2019), o que correspondeu a uma taxa de detecção de 13,74 casos por 100 mil habitantes. Dentro do país, o quadro epidemiológico é ainda mais diversificado, apresentando áreas que concentram maior em endemicidade, dentre elas destaca-se as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (RODRIGUES et al., 2020). A principal estratégia para reverter esse quadro baseia-se na descentralização das ações de controle para ESF. A ESF é considerada a porta de entrada preferencial do usuário ao sistema de saúde e com potencial para prevenção e resolução de agravos e doenças. Considerando que reorientação do modelo assistencial brasileiro é importante para o controle da doença identificou-se a necessidade de observar o comportamento temporal da cobertura da ESF e a situação epidemiológica da hanseníase nas regiões de maior endemicidade do país, período 2009 a 2019. Métodos: Trata-se de um estudo ecológico, descritivo. Foram consideradas unidades territoriais de análise as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Foram utilizados como variáveis a taxa de detecção anual de casos novos de hanseníase por 100 mil habitantes  e a proporção da cobertura populacional estimada por ESF, período 2009 a 2019. As variáveis foram retiradas da Sala de Apoio à Gestão Estratégica (SAGE) do Ministério da Saúde e da plataforma eletrônica do Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Atenção a? Saúde, do Ministério da Saúde, respetivamente. Para estimar a cobertura da população pela ESF durante o ano, foram utilizados os dados em referência do mês de dezembro de cada ano (2009 a 2019). Os dados foram exportados para o software Office Excel (2016) para a confecção de gráficos e tabelas. Considerando que a pesquisa utilizou apenas dados de domínio público, sem restrição de acesso, não foi necessária sua apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Resultados e Discussão: A partir dos resultados encontrados na presente pesquisa, demonstra-se que a região Nordeste do Brasil foi aquela com maior cobertura da ESF em todos os anos analisados quando comparada com às outras regiões. Inclusive, a taxa de detecção de casos novas de hanseníase foi diminuindo com o passar dos anos, embora ainda elevada em 2019. Ademais, percebe-se que na região Norte, no ano de 2009, a cobertura da ESF era somente de 51,53% da população, o que demonstra  que metade da comunidade não estava coberta pelas ações da ESF. Quanto a avaliação temporal, observa-se uma redução da taxa de detecção de hanseníase na região Norte acompanhada pelo aumento da cobertura da ESF. Da mesma forma, na região Centro-Oeste, o aumento da cobertura da ESF foi acompanhado pela redução da detecção de hanseníase. No entanto,  a queda da detecção da hanseníase foi menor quando comparada às outras regiões. O presente estudo traz informações importantes sobre um possível impactado da cobertura da ESF no comportamento epidemiológico da hanseníase. A afirmação é feita com cautela, pois este estudo se limita a uma avaliação descritiva, sem apresentar inferências estatísticas. No entanto, estudos recentes corroboram com a presente pesquisa (GOMES et al., 2017; NERY et al., 2017). É provável que a ESF contribua positivamente no controle da doença, pois esta oferece melhor acesso ao diagnóstico e ao tratamento. Há maior facilidade em realizar o exame de contatos, dispensar a medicação e acompanhar a evolução clínica dos pacientes (BELDARRAI?N-CHAPLE, 2017). Os resultados são favoráveis, mas a preocupação permanece. Essas regiões mantêm-se em áreas de clusters (RODRIGUES et al., 2020), demonstrando a necessidade de maiores investigações quanto aos fatores que determinam e condicionam essa situação há anos. É possível mencionar que a dificuldade quanto ao controle possa estar relacionado a  baixa capacitação/qualificação dos profissionais em executar as ações necessárias e prioritárias de acordo com essa doença (VIEIRA, MARTINEZ-RIERA, LANA, 2020). Além disso, não se pode esquecer que   problemas de acesso, dificuldades de reconhecer sinais e sintomas da doença pela população agravam a situação (ARAÚJO, LANA, 2020; VIEIRA, MARTINEZ-RIERA, LANA, 2020). Nesse sentido, torna-se necessário que os profissionais inseridos na ESF identifiquem os principais problemas de saúde da sua área de abrangência e quais as situações de risco que a população está exposta, buscando estratégias para o enfrentamento desses agravos, realizando promoção da saúde e sendo fundamentais  no envolvimento com a comunidade (CARVALHO et al, 2018). Importa assistir o paciente com hanseníase de forma individualizada e sistemática, possibilitando sua adesão ao tratamento e reduzindo as incapacidades físicas consequentes da doença (RODRIGUES et al., 2015), principalmente por ser uma doença altamente estigmatizante. Por fim, é necessário compreender as condições de vida dos pacientes e fornecer apoio para superar as vulnerabilidades encontradas nessas regiões do país. É fundamental que os profissionais de saúde atuantes na ESF, conheçam as famílias, estimulem o autocuidado e forneçam informações e orientações para garantir o vínculo com o paciente e assim ele possa buscar o serviço de saúde diante dúvidas e aparecimento dos sinais e sintomas (ARAÚJO, SILVA, 2019). Conclusão: É possível entender a importância das ações de controle e prevenção da hanseníase, visto que quanto maior a cobertura oferecida pela ESF é visível a redução de casos novos. Assim sendo, é fundamental que essas ações sejam difundidas em todas as regiões do país, uma vez que encontramos uma grande diversidade de realidades e populações, sendo fundamental que cada lugar vise estratégias em conjunto com a sua comunidade e forneça orientações e planos de ação adequados, para quando algo de diferente for encontrado pelos pacientes, eles tenham confiança em buscar o serviço de saúde e na assistência prestada.

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COMENTÁRIOS
Foto do Usuário Izabella Luciana Castelão 09-02-2021 09:50:35

- Comentário e Sugestão: O tema abordado é de grande relevância cientifica, pois é pouco discutido no Brasil. É essencial que os profissionais de saúde sejam capacitados para reconhecer os sinais e sintomas da doença, para diagnosticar e tratar os casos de hanseníase, bem como, para realizar ações de promoção de saúde. Sugiro que os autores aprofundem mais sobre a pesquisa para uma futura publicação. - Pergunta: Como funciona o fluxo de atendimento na Unidade Básica de Saúde? É realizado exame de grupos específicos (quartéis, escolas, prisões, escolas etc) em áreas de alta magnitude da doença?

Prezados autores, Inicialmente gostaria de parabenizá-los por abordar um tema tão relevante, mas que ainda é estigmatizado. Penso que o resumo está bem estruturado, apenas deixo algumas considerações que possuem o intuito de torná-lo ainda melhor. Objetivo: retirar o período de coleta de dados (2009-2019), tal informação deve constar no método. Método: deixar claro que os dados são de domínio público, entretanto caso os autores desejem publicá-lo futuramente, faz-se necessário solicitar um dispensa de avaliação do COPEP. Apesar de ser dados de domínio público, muitas revistas exigem o número do protocolo de dispensa do COPEP. Conclusão: primeiramente a conclusão precisa responder ao objetivo, posteriormente se pode acrescentar as considerações dos autores (potencialidades, limitações e/ou novas possibilidades de pesquisas).

Foto do Usuário Amanda Caroline Nunes Dos Santos 09-02-2021 09:50:35

Excelente abordagem, senti falta da exemplificação das demais estratégias que ESF utiliza. Foi importante ressaltar as regiões que necessitam de mais atenção, como foi dito a região Norte. Um dos obstáculos é o estigma da doença, somado a pouca atenção dada pelo poder público para incentivar a prevenção e conscientização da população junto com o serviço de saúde, capacitado para reconhecer os sinais da doença.

Foto do Usuário George Jó Bezerra Sousa 09-02-2021 09:50:35

Prezados autores, parabéns pelo estudo e tema escolhido. Os autores mostraram poder de síntese e mesmo assim apresentaram um ótimo resumo. A minha principal sugestão seria em diminuir um pouco a introdução para que o resultado pudesse ser mais detalhado.

Foto do Usuário Adenilson Oliveira Gomes 09-02-2021 09:50:35

Tema relevante se tratando de doenças negligenciadas, que tem pouco interesse pela comunidade científica; porém tem necessidade de melhorar o método e objetivos. Parabéns

Foto do Usuário Carla Taís Barbosa Pereira 09-02-2021 09:50:35

Desde muito tempo a hanseníase está presente na sociedade, entretanto, o estigma e a desinformação sobre a doença são prevalentes na atualidade. É importante enfatizar trabalhos como esse, mostrar a relevância de mais estudos sobre o tema. O trabalho é de fácil leitura e objetivo, enfatizando a necessidade de trabalhar tal temática lado a lado com a população.

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