REFLEXÃO TEÓRICA SOBRE A APLICAÇÃO DA TEORIA DE DOROTHEA OREM NA CONTINUIDADE DO CUIDADO
DOCUMENTAÇÃO
Tema: Gestão de serviços de saúde
Temas Correlatos: Gestão de serviços de saúde;
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AUTORIA
Ellen Simone Vasconcelos Cipriano , Zenith Rosa Silvino
ABSTRACT
Introdução: Enfermeiros têm se dedicado a estruturar uma base de conhecimento sólida a fim de fundamentar a prática profissional. E para tanto têm feito uso das teorias de enfermagem, visando medidas para solucionar problemas a partir do método científico. Nesse contexto, pode-se destacar a teoria de Dorothea Orem, a qual concentra-se em um dos conceitos fundamentais da enfermagem – o autocuidado, e cumpre os critérios para que possa ser integrada na prática profissional, visto que é: aplicável na prática, útil e compatível com o âmbito multiprofissional e multidisciplinar, e tem relevância para o cuidado prestado ao cliente (Ribeiro et al., 2021). Esta teoria demonstra a relevância do autocuidado para preservação da saúde do sujeito, sendo que, quando esta habilidade é afetada torna-se fundamental a atuação do enfermeiro, de modo a ampará-lo no reestabelecimento (Neves et al., 2022). Sendo comprovado que a teoria de Orem pode e deve ser empregada em uma pluralidade de cenários e sujeitos. Pois se trata de uma ferramenta significativa para compreender o indivíduo dentro do seu contexto e nortear a prática profissional acerca das reais necessidades daquele indivíduo (Melo; Bernardo; Macedo; Francisco; Barros, 2020). Objetivo: Refletir sobre a aplicação da teoria do Déficit do Autocuidado de Dorothea Orem na continuidade do cuidado após a alta hospitalar. Metodologia: Trata-se de uma reflexão teórica, de abordagem qualitativa, fundamentada na Teoria do Déficit do Autocuidado de Dorothea Orem, traçando uma aproximação com o planejamento de alta hospitalar, no contexto da continuidade do cuidado. Resultados e Discussão: Enquanto uma das primeiras teóricas de enfermagem, Dorothea Orem colaborou para construir o conhecimento na Enfermagem. Ela nasceu em Baltimore, Maryland – EUA, no ano de 1914. E deu início aos estudos na área de enfermagem no Providence Hospital School of Nursing, em Washington, finalizando em 1930. No ano de 1939, recebeu o grau de Bacharel em Ciências em Educação de Enfermagem e, em 1945 obteve pela Catholic University of America, o título de Mestre em Ciências em Educação de Enfermagem. Tendo recebido também outros títulos e graus honorários. Orem atuou como enfermeira de equipe e particular. Entre 1957 e 1959 atuou como consultora para a Secretaria de Educação do Departamento de Saúde, Educação e Bem-estar em um projeto que visava aprimorar o treinamento de enfermagem prática, culminando com a publicação, em 1959, do conceito de enfermagem como autocuidado. A concepção de autocuidado surgiu quando Orem participou de um projeto para aprimoramento do treinamento prático de enfermagem, o que a levou a ponderar sobre qual a condição existente no indivíduo quando este ou outros determinam a necessidade de estar sob os cuidados de enfermagem. Tal questionamento deu lugar à Teoria do Autocuidado, a qual está relacionada à execução do autocuidado em si, esclarecendo porque este é necessário à saúde (Silva; Haddad; Pereira; Lima, 2011). Dorothea Orem estabelece seu modelo como teoria geral de enfermagem constituída por três outras teorias associadas: teoria do autocuidado, teoria do déficit de autocuidado e teoria do sistema de enfermagem (Naranjo-Hernández, 2019). A Teoria do autocuidado relata e esclarece as razões pelas quais o autocuidado é fundamental para a vida, saúde e bem-estar do indivíduo (Silva; Haddad; Pereira; Lima, 2011). O autocuidado pode ser entendido como a atribuição que o ser humano possui pela promoção, manutenção e cuidado da saúde, proporcionando seu próprio cuidado nas necessidades diárias de vida continuamente (Sady et al., 2021; Naranjo-Hernández, 2019). Podendo ser afetado por alguns fatores, como: idade, sexo, doenças, escolaridade, dentre vários outros (Sady et al., 2021). A Teoria do Déficit do Autocuidado, por sua vez, corresponde à explanação do momento e razão pelos quais a enfermagem se torna necessária e essencial ao indivíduo com relação ao processo de cuidado. É mais ampla que a teoria do autocuidado (Silva; Haddad; Pereira; Lima, 2011). Sendo assim, quando há déficit do autocuidado, é então que advém a atuação direta do enfermeiro (Rocha et al., 2021). A partir da observação das necessidades do indivíduo e fundamentado na Teoria do Déficit do Autocuidado, é possível perceber a necessidade de ferramenta de autocuidado terapêutico (Silva; Costa; Souza; Almeida, 2023). Já a Teoria do sistema de enfermagem está associada ao fato de o indivíduo estar em circunstância de déficit de autocuidado e para compensá-lo, requer o cuidado de enfermagem. Sendo assim, essa teoria se limita a esclarecer o modo pelo qual os indivíduos são auxiliados pela enfermagem (Silva; Haddad; Pereira; Lima, 2011). A teoria do sistema de enfermagem é validada por três sistemas (Rocha et al., 2021), conforme descrito na classificação a seguir: O sistema totalmente compensatório diz respeito à quando o indivíduo é incapaz de empenhar-se nas atividades de autocuidado (Silva; Haddad; Pereira; Lima, 2011). No compensatório, a incapacidade de autocuidado é afirmada e a enfermagem torna-se fundamental (Rocha et al., 2021). Já o sistema parcialmente compensatório está associado à situação em que tanto o enfermeiro quanto o paciente desenvolvem atividades de autocuidado (Silva; Haddad; Pereira; Lima, 2011). Apoio e educação, por sua vez, estão associados à condição de o indivíduo que está sob orientação e assistência estar apto a aprender e desenvolver atividades de autocuidado terapêutico (Silva; Haddad; Pereira; Lima, 2011). A teoria de Orem evidencia cinco métodos de auxílio: agir ou realizar para o outro, conduzir o outro, apoiar o outro, promover um ambiente para o seu desenvolvimento pessoal e orientar o outro (Sady et al., 2021). Cada uma das teorias mencionadas possui seus conceitos próprios, contudo o conjunto de tais conceitos estabelece outra perspectiva a qual culminou na Teoria de Enfermagem do Déficit do Autocuidado. Desse modo, tal teoria possui um caráter mais abrangente, pois compreende os objetivos das três teorias descritas anteriormente (Silva; Haddad; Pereira; Lima, 2011). Sabese que esta teoria foi aplicada e difundida mundialmente, o que ratifica sua validação e aplicabilidade na enfermagem. O apoderamento desse constructo teórico evidencia-se na sustentação teórica dos estudos, na prática assistencial e na docência da área de Enfermagem (Melo; Bernardo; Macedo; Francisco; Barros, 2020). Sendo que, no contexto da internação hospitalar, segundo a Teoria do Défict do Autocuidado, tanto o paciente quanto a família possuem déficit de autocuidado pela falta de conhecimento com relação à doença e tratamento desta (Silva; Haddad; Pereira; Lima, 2011). Vale lembrar que Orem parte da ideia de que os indivíduos são capazes de desenvolver capacidades práticas e intelectuais de modo a dar continuidade ao cuidado de si mesmos para manter suas funções humanas básicas (Cavalcante et al., 2021). A promoção do autocuidado, portanto, contribui para a autonomia do paciente, fazendo com que este sinta-se protagonista no processo de cuidado (Cavalcante et al., 2021). Entretanto, a carência de um planejamento de alta hospitalar pode acarretar pacientes, familiares e cuidadores mal orientados e inseguros sobre o futuro, visto que indica a falta de um método sistematizado dos processos educativos de enfermagem, necessários para reconhecer os problemas e limitações dos pacientes em atender às necessidades de autocuidado (Souza et al., 2020). No estudo realizado por Souza et al. (2020), percebe-se a importância do planejamento de alta hospitalar, enquanto um processo individualizado, organizado, educativo e essencial para evitar a descontinuidade do cuidado após o retorno ao ambiente domiciliar. Desse modo, para o planejamento da alta hospitalar, o enfermeiro pode optar por basear suas práticas de cuidado na Teoria do Déficit do Autocuidado de Dorothea Orem. Ressaltando ainda que a continuidade do cuidado está ligada à gestão da alta hospitalar (Bernardino et al., 2022), e também à gestão do cuidado (Weber; Lima; Acosta, 2019). Considerações finais: Percebe-se a necessidade da realização de um planejamento de alta hospitalar efetivo, de modo a promover a continuidade do cuidado que antes era prestado no hospital, e agora será realizado em domicílio. Para tanto, nota-se a relevância de promover o autocuidado do paciente, e quando necessário, que o familiar ou cuidador possa garantir a continuidade desse cuidado. Nesse contexto, destaca-se a Teoria de Orem de modo a fundamentar esse processo.
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