A fundamentação teórica do artigo ''Influência Reguladora na Cocriação de Valor nos Ecossistemas de Serviços de Saúde Pública: Brasil e França, Uma Comparação'' é pertinente e aborda um tema crucial para a gestão pública e a saúde coletiva. A escolha de explorar a cocriação de valor como um processo colaborativo envolvendo múltiplos stakeholders está em linha com teorias contemporâneas sobre ecossistemas de serviços, como as propostas por Vargo e Lusch (2004), que destacam o papel ativo dos atores no processo de geração de valor. Além disso, a análise das estruturas regulatórias nos sistemas de saúde do Brasil e da França dialoga com a literatura sobre governança em saúde pública, como apontado por Greer et al. (2016), que destacam o impacto das políticas regulatórias na eficiência, acesso e qualidade dos serviços de saúde. O artigo poderia aprofundar sua fundamentação teórica ao integrar conceitos de governança adaptativa e resiliência em sistemas de saúde, como discutido por Duit et al. (2010).
A fundamentação metodológica, baseada em uma análise comparativa e entrevistas com gestores e reguladores, é adequada para explorar como diferentes estruturas regulatórias influenciam a cocriação de valor. A combinação de revisão de literatura e coleta de dados empíricos permite uma visão abrangente e contextualizada dos desafios e boas práticas em ambos os países. No entanto, o artigo poderia detalhar mais os critérios de seleção dos entrevistados e a abordagem analítica utilizada para comparar os sistemas, como sugerido por Yin (2017) em estudos de caso comparativos. Além disso, a inclusão de indicadores quantitativos, como métricas de eficiência ou satisfação dos usuários, poderia complementar as análises qualitativas e oferecer uma perspectiva mais completa.
Os resultados e conclusões destacam como as diferentes estruturas regulatórias moldam a cocriação de valor nos sistemas de saúde público do Brasil e da França. No caso brasileiro, os desafios relacionados à coordenação e financiamento do SUS refletem questões estruturais amplamente documentadas, como em estudos de Massuda et al. (2018), que apontam para a necessidade de maior integração e descentralização das políticas de saúde. Por outro lado, o sistema francês, embora mais centralizado, enfrenta desafios em termos de equidade de acesso e sustentabilidade financeira, corroborando as análises de Chevreul et al. (2015). O artigo faz uma importante contribuição ao identificar boas práticas na França que poderiam ser adaptadas ao contexto brasileiro, como a regulação mais rígida de padrões de qualidade e maior envolvimento dos pacientes na tomada de decisão.
Os avanços teóricos, metodológicos e empíricos do artigo incluem a aplicação do conceito de cocriação de valor em sistemas de saúde pública, o que contribui para a literatura sobre gestão de serviços e políticas públicas. A análise comparativa entre Brasil e França oferece insights valiosos para gestores e reguladores em ambos os países, promovendo a troca de boas práticas e a identificação de lacunas a serem abordadas. Para maximizar seu impacto, o artigo poderia propor frameworks ou modelos para guiar a implementação de práticas regulatórias que incentivem a cocriação de valor, levando em conta as especificidades culturais, econômicas e institucionais de cada país.
Referências
CHEVREUL, Karine; BERTRAND, Xenia; BRIGHAM, Brenda; DURAND-ZALESKI, Isabelle. France: Health system review. Health Systems in Transition, v. 17, n. 3, p. 1-218, 2015. Copenhagen.
DUIT, Andreas; GALAZ, Victor; ECKERBERG, Katarina; EBBESSON, Jonas. Governance, complexity, and resilience. Global Environmental Change, v. 20, n. 3, p. 363-368, 2010. Amsterdam.
GREER, Scott L.; WENHAM, Clare; FAULKNER, Nicholas; PAUL, Elena. Resilience and governance in health systems. Global Public Health, v. 11, n. 4, p. 403-420, 2016. Abingdon.
MASSUDA, Adriano; HONE, Thomas; LIRA, Andrea; GARCIA, Luiz; MACINKO, James. The Brazilian health system at crossroads: Progress, crisis and resilience. BMJ Global Health, v. 3, n. 4, p. e000829, 2018. London.
VARGO, Stephen L.; LUSCH, Robert F. Evolving to a new dominant logic for marketing. Journal of Marketing, v. 68, n. 1, p. 1-17, 2004. Chicago.
YIN, Robert K. Case study research and applications: Design and methods. 6. ed. Sage Publications, 2017. Thousand Oaks.