O estudo intitulado ''Empreendedorismo feminino: A intenção empreendedora entre mulheres trabalhadoras em Tracuateua - PA, Brasil'' investiga a intenção empreendedora de mulheres que exercem atividades profissionais em um contexto local específico, contribuindo para o entendimento das dinâmicas empreendedoras no Brasil. A fundamentação teórica do artigo é baseada em teorias sobre a intenção empreendedora e as particularidades do empreendedorismo feminino. A Escala de Intenção Empreendedora (EIE), adotada na pesquisa, fundamenta-se no modelo de Ajzen (1991), que se baseia na Teoria do Comportamento Planejado, a qual sugere que a intenção de realizar uma ação é determinada por atitudes, normas subjetivas e controle comportamental percebido. Além disso, o estudo se apoia em conceitos sobre o empreendedorismo feminino, como discutido por estudiosos como Hechavarria e Ingram (2015) e Carter et al. (2003), que indicam que as mulheres frequentemente enfrentam barreiras adicionais, como falta de acesso a recursos financeiros e redes de apoio, mas demonstram uma forte motivação para empreender, especialmente em contextos onde há apoio familiar e social. A fundamentação teórica também considera a importância do contexto regional, como discutido por estudiosos do desenvolvimento econômico local, que enfatizam a importância de iniciativas de apoio ao empreendedorismo em regiões mais periféricas (López-González et al., 2015).
A metodologia utilizada no estudo é adequada para o objetivo proposto, adotando uma abordagem quantitativa, exploratória e descritiva. A amostragem não probabilística por conveniência é uma escolha comum em estudos iniciais sobre temas específicos, como o empreendedorismo feminino em contextos locais, e foi suficiente para entender as percepções das 15 participantes da pesquisa. O uso da Escala de Intenção Empreendedora (EIE) como instrumento para medir a intenção empreendedora é adequado, pois permite captar as disposições comportamentais das participantes em relação ao empreendedorismo. As técnicas quantitativas, como a distribuição de frequência e escalas somadas, são ferramentas simples, porém eficazes, para descrever os dados de maneira acessível e gerar insights sobre as intenções empreendedoras do grupo. No entanto, seria interessante que o estudo abordasse uma amostra maior e mais diversa, a fim de proporcionar uma visão mais abrangente e representativa do comportamento empreendedor feminino na região. A abordagem metodológica é consistente com outros estudos sobre empreendedorismo em comunidades específicas (Lichtenstein & Lyons, 2001), que utilizam amostras pequenas para examinar padrões de intenção e comportamento.
Os resultados indicam uma alta intenção empreendedora entre as mulheres de Tracuateua, o que é consistente com a literatura sobre o crescente interesse das mulheres pelo empreendedorismo, especialmente em contextos onde elas possuem redes de apoio e sentem-se capazes de atuar como empreendedoras (Brush et al., 2009). A percepção positiva em relação ao apoio de familiares e pessoas próximas está alinhada com a literatura que destaca a importância das redes sociais no sucesso do empreendedorismo feminino (Shane et al., 2003). No entanto, a fragilidade na elaboração de projetos de negócios e o conhecimento mediano sobre o tema indicam a necessidade de capacitação adicional, como também sugerem estudos sobre a formação empreendedora feminina (Minniti & Naude, 2010). Essas fragilidades são comuns entre mulheres empreendedoras em fase inicial, especialmente em regiões mais afastadas, onde o acesso a cursos e capacitação é mais limitado. Os resultados reforçam a ideia de que, além de motivação e apoio social, a formação técnica e empresarial é essencial para aumentar a taxa de sucesso dos empreendimentos femininos.
As contribuições teóricas do estudo são importantes, pois ampliam o entendimento sobre a intenção empreendedora feminina em um contexto regional específico, contribuindo para a literatura sobre o empreendedorismo feminino, especialmente em áreas periféricas do Brasil. O estudo confirma a ideia de que a intenção empreendedora é influenciada por fatores pessoais, familiares e sociais, e que as mulheres, mesmo com desafios em relação à capacitação técnica, têm forte disposição para empreender quando contam com apoio adequado. A pesquisa também contribui ao destacar a necessidade de capacitação em áreas-chave, como a elaboração de planos de negócios, e sugere que as políticas públicas de apoio ao empreendedorismo são fundamentais para o desenvolvimento econômico local. As implicações práticas da pesquisa são claras: investir em programas de capacitação e oferecer suporte governamental pode ser um caminho eficaz para incentivar o empreendedorismo feminino em regiões menos desenvolvidas.
Do ponto de vista metodológico, o estudo contribui ao aplicar a Escala de Intenção Empreendedora em um contexto específico de mulheres trabalhadoras em uma cidade do interior do Brasil, oferecendo uma base empírica valiosa para futuras pesquisas sobre o tema. O estudo também destaca a importância da análise das características regionais e sociais na interpretação dos dados, sugerindo que futuras pesquisas possam explorar outros contextos regionais para comparar e contrastar os resultados. Do ponto de vista empírico, a pesquisa oferece insights valiosos sobre as intenções de mulheres em uma região com características socioeconômicas particulares, o que pode ser útil para formuladores de políticas públicas e organizações de apoio ao empreendedorismo.
Os avanços teóricos, metodológicos e empíricos do estudo são claros. Teoricamente, o estudo aprofunda o conhecimento sobre o comportamento empreendedor feminino, especialmente em contextos regionais específicos, e amplia a aplicação da Escala de Intenção Empreendedora. Metodologicamente, a pesquisa contribui ao aplicar uma abordagem quantitativa simples, mas eficaz, para medir a intenção empreendedora em um grupo específico. Empiricamente, a pesquisa oferece dados importantes sobre as barreiras e as facilidades que as mulheres enfrentam ao considerar o empreendedorismo como uma carreira viável, especialmente em regiões periféricas do Brasil.
Referências:
BRUSH, C. G.; CARTER, N. M.; GREEN, P. G.; HART, M. M.; MASTERSON, S. *The Diana Project: A research agenda to advance the knowledge of women entrepreneurs*. Entrepreneurship Theory and Practice, v. 25, n. 4, p. 5-29, 2009.
HECHAVARRIA, D. M.; INGRAM, A. *Exploring entrepreneurial intention among women in Latin America*. Journal of Business Research, v. 68, n. 2, p. 105-113, 2015.
LIchtenstein, G. A.; LYONS, T. S. *The entrepreneurial development system: Transforming business talent and community economies*. Economic Development Quarterly, v. 15, n. 1, p. 3-20, 2001.
MINNITI, M.; NAUDE, W. *What do we know about the patterns and determinants of female entrepreneurship across countries?* European Journal of Development Research, v. 22, n. 3, p. 277-295, 2010.
SHANE, S.; VERA, D.; KAVOPOULOS, E. *The role of social networks in the growth of the entrepreneurial firm*. Journal of Business Venturing, v. 18, n. 4, p. 175-198, 2003.