O artigo ''Possibilidades de uma Aprendizagem em Ação em Empresas Juniores: O Caso de Estudantes de Administração de uma Universidade Federal'', de Shirley Santos Do Nascimento e Thales Batista De Lima, investiga o impacto das empresas juniores na formação profissional de estudantes de Administração na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O conceito de aprendizagem em ação, defendido por Kolb (1984), é explorado para entender como os estudantes aplicam teorias acadêmicas em contextos práticos e reais por meio da atuação nas empresas juniores, estabelecendo um vínculo entre prática reflexiva e ação concreta. A pesquisa adota um estudo de caso em três empresas juniores dos cursos de Administração de três campi da universidade, utilizando uma metodologia qualitativa para explorar como essas empresas contribuem para a formação dos alunos.
A estrutura teórica do estudo está fortemente ancorada nas ideias de aprendizagem experiencial, que enfatiza a importância de experiências práticas no processo educacional. O trabalho de Schön (1983) sobre reflexão na ação é um ponto de partida crucial para a análise, considerando que as empresas juniores representam ambientes onde os estudantes podem refletir e atuar simultaneamente. A teoria da aprendizagem experiencial também é complementada pela pedagogia ativa, como descrita por Freire (1996), que valoriza a participação ativa do estudante na construção do seu próprio conhecimento, ao invés de uma aprendizagem passiva.
O estudo revela que as empresas juniores não são apenas espaços para aplicar o que é aprendido em sala de aula, mas também se constituem em ambientes vivos de aprendizagem, onde os alunos experimentam, cometam erros e revisitam conceitos de maneira prática. Este processo é fundamental para o desenvolvimento de habilidades de liderança, trabalho em equipe e capacidade reflexiva, competências essenciais para a formação de administradores bem-sucedidos no mercado de trabalho. A relação entre tomada de decisão e reflexão sobre a prática sugere que os estudantes, ao enfrentarem situações reais de negócios, aprimoram suas habilidades de resolução de problemas e adaptação ao contexto corporativo.
Além disso, as empresas juniores contribuem diretamente para a orientação da carreira dos estudantes, fornecendo uma visão mais clara das exigências do mercado de trabalho e da prática profissional. Essa percepção está alinhada com as ideias de McKenna e Beech (2002) sobre a importância da educação prática para a preparação de futuros profissionais. As experiências adquiridas nas empresas juniores não só fortalecem as competências técnicas dos alunos, mas também contribuem para a formação de uma identidade profissional mais ajustada às necessidades e expectativas do mercado.
Em termos metodológicos, a utilização do estudo de caso como técnica de pesquisa permite uma análise detalhada e aprofundada das experiências vivenciadas pelos estudantes, facilitando a compreensão do impacto das empresas juniores na formação prática. No entanto, a abordagem poderia ser complementada com análises longitudinais, como investigações ao longo de mais de um ciclo acadêmico, para avaliar como a evolução da participação nas empresas juniores influencia no desenvolvimento das competências profissionais ao longo do tempo.
Como contribuição acadêmica, o estudo amplia o debate sobre a importância da aprendizagem experiencial no contexto universitário e oferece insights valiosos sobre a eficácia das empresas juniores como instrumentos de aprendizagem ativa e preparação profissional. A pesquisa sugere que a integração de teoria e prática em um ambiente de ação real pode melhorar significativamente a formação de competências de liderança, tomada de decisão e habilidades interpessoais, essenciais para os administradores do futuro.
Referências:
FREIRE, P. (1996). Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
KOLB, D. A. (1984). Experiential Learning: Experience as the Source of Learning and Development. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall.
MCKENNA, J.; BEECH, P. (2002). The Impact of Work-Based Learning on the Employability Skills of Graduates. Education + Training, 44(2/3), 101-112.
SCHÖN, D. A. (1983). The Reflective Practitioner: How Professionals Think in Action. New York: Basic Books.