O Só-Depois De Um Grupo Perdido No Tempo

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Pandemia, perdas, luto

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AUTORIA

Alessandra Cassia Leite Barbieri , Ricardo G Portolano

ABSTRACT
Em março de 2020, fomos informados abruptamente de que o Instituto Sedes Sapientiae fecharia suas portas por tempo indeterminado, por conta da pandemia de COVID-19. As atividades presenciais estavam suspensas. Não tivemos tempo de comunicar a notícia, pessoalmente, e nem de dizer um “até breve” para nossos pacientes do grupo de crianças que coordenávamos, à época: seis meninos, que contavam entre 8 e 10 anos, e que estavam juntos havia aproximadamente seis meses. Convictos de que tomar crianças em grupo, na clínica psicanalítica, se revela um potente dispositivo para promover movimentações psíquicas em seus usuários, apostamos, naquele momento, na continuidade dos encontros, só que realizados de modo remoto. No entanto, conseguimos manter nosso compromisso de estarmos juntos, seis pacientes e dois terapeutas, no zoom, todas as tardes de sextas-feiras, por menos de dois meses. O novo instrumento se revelou, rapidamente, bastante insuficiente: as crianças estavam na tela, mas não abriam suas câmeras; entravam no link para se manterem caladas ou gritando expressões incompreensíveis; faltavam seguidamente; colocavam seus cachorros diante da câmera e se ausentavam do cômodo durante todo o encontro; nos diziam que não havia graça em brincar dessa forma. Pequenos insurgentes habitando universos paralelos, que se rebelavam, a cada encontro, contra nossa pífia e ingênua tentativa de emplacar o nefasto “novo normal”. Nessa apresentação, interessa-nos refletir sobre como a recusa das crianças em se manterem juntas (juntas?), no precário dispositivo eletrônico, foi uma saudável resistência psíquica que denunciou a impossibilidade de nós, terapeutas, nos depararmos com uma grande perda e suas difíceis consequências para o trabalho que vínhamos desenvolvendo na instituição. Foram eles, e não nós, que, em um último movimento grupal, ainda que cada qual a seu modo, deflagraram a inevitável desarticulação daqueles laços, da forma como um dia existiram nos corredores e na sala de atendimento da instituição. Não se tratava mais do mesmo espaço, nem do mesmo tempo. O grupo de outrora estava perdido para sempre. Em tempos da perigosa legitimação do homeschooling e da banalização do uso das telas entre as crianças, nossos pequenos pacientes nos mostraram, de maneira contundente, o quão significativo é estar em presença do outro semelhante para as trocas, as identificações, os encontros e desencontros. Menos que isso é inaceitável!

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