INFÂNCIA AMEAÇADORA

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Corpo, dor, silêncio

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AUTORIA

Marcia Regina Porto Ferreira

ABSTRACT
A INFÂNCIA AMEAÇADORA


Não raramente, adultos a quem é delegada a função de proteção de crianças, têm sido apontados como perversos abusadores. Relatos de práticas pedofílicas exercidas por cuidadores, padres, professores, médicos, frequentemente têm sido divulgados pela mídia. Recentemente foi descoberto que as crianças inglesas evacuadas da guerra, eram constantemente abusadas sexualmente pelas próprias famílias que as acolheram. Constata-se, também que diversas ações, governamentais ou não, das medidas de proteção à infância paradoxalmente promovem novas formas de violência, configurando-se, assim, uma verdadeira revitimização da vítima.  Pode-se mesmo afirmar que as crianças que passaram por situações de violência são as que acabam por se tornarem mais expostas ao perigo e à crueldade dos adultos.  
Do abuso sexual, trabalho infantil, prostituição, tráfico de crianças ao abuso de ofertas da sociedade de consumo, dentre elas de medicalização forjada pela indústria farmacêutica, revelam que a criança, sob vários artifícios, mascarados ou não, é um dos objetos privilegiados de violência da sociedade.  Podemos constatar que esse complexo e multiforme fenômeno da violência contra crianças não reflete apenas os efeitos dos atuais modos de subjetivação contemporâneos. Historicamente as crianças vêm sendo vitimizadas por diversas formas de violência, reconhecidas e exercidas de maneira regulada pela sociedade. Elisabeth Badinter (1980), num subtítulo de seu famoso e revolucionário livro Um amor conquistado – o mito do amor materno, nos dá uma importante dica para ser perseguida:  “a criança amedronta”. Conclui Badinter que o pecado original de que a criança seria portadora é o que causaria terror a Santo Agostinho, ou seja, a criança seria prova viva de uma sexualidade assustadora.  Para ele, a criança, esse estranho tão familiar, evidencia paixões desmedidas, há muito proibidas ... e invejadas!  O pequeno humano ameaçaria tomar-se atalhos e desvios no caminho da busca pela perfeição da maturidade.  Então, seria necessário combater com todas as forças o infantil tão escandolosamente encarnado e escancarado pela criança. A partir dessas constatações, gostaria de fazer um pequeno recorte na trama do tecido da violência infantil para arriscar  algumas aproximações sobre o por que a criança, a infância, o infantil disparam nos humanos afetos tão desumanos  (quem sabe, demasiadamente humanos). Ou seja, fundamentalmente  pensarmos o que a psicanálise pode e deve oferecer  de seus conhecimentos para os serviços de proteção à criança, na medida em que se coloca na escuta para  as inconscientes e selvagens atuações daqueles que delas cuidam.

PALAVRAS-CHAVE: criança, violência, psicanálise.

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