Vídeos de brincadeiras compartilhados online: notas sobre os efeitos das mídias digitais no brincar na atualidade

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Tempo

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AUTORIA

Bárbara Morais Santiago Freitas

ABSTRACT
O brincar é parte fundamental da saúde na infância e nas últimas décadas foi atravessado pelas novas tecnologias digitais, conformando novos modos de subjetivação. O YouTube é um dos espaços em que circulam desejos, comportamentos, brincadeiras, etc. Os vídeos de brincadeiras protagonizados por crianças e compartilhados online informam sobre a cultura lúdica e os modos de ser criança na atualidade. Compreendemos, à luz da teoria winnicottiana, que o brincar é fundamental à constituição psíquica, sendo um “fazer” que possibilita à criança elaborar o vivenciado. Através do brincar a criança, a um só tempo, constrói sua identidade e é iniciada nas relações com o outro social.  Destacamos também o olhar de Esteban Levin que aponta para a importância do brinquedo como um gerador de vazio, um espaço que irá possibilitar à criança a construção de suas próprias ficções e fantasias, uma ''experiência de ausência''. Este trabalho parte do questionamento de se  vídeos no YouTube de crianças brincando constituem imagens do brincar de fato e quais os efeitos subjetivos desse hábito tão recorrente nesse fazer constituinte para a infância, tendo em vista que a análise do brincar e os objetos da infância revelariam uma trama complexa entre a cultura e o inconsciente. Para tanto, buscamos investigar os discursos e as representações sobre o brincar que são compartilhados através de vídeos no YouTube. Foi realizada uma busca com o termo “brincando” na ferramenta de busca da plataforma e construímos um “top 100 vídeos de crianças brincando”. Percebemos que os vídeos ilustram o que Joel Birman descreveu como uma fragilização do registro do tempo, que compromete a simbolização e a capacidade de afetação, evidenciando uma anulação do campo do pensamento e das reflexões. Os discursos e a linguagem constituintes dos vídeos de brincadeiras não estão a serviço da metáfora, possuindo um caráter metonímico. Deste modo a experiência se espacializa, restringindo-se ao aqui e agora, e sem a possibilidade de temporalização perde seu poder simbólico. Julieta Jerusalinsky nos fala o quanto estes objetos tecnológicos não operam como metáforas da falta, e sim carreiam a ilusão de onipotência, preenchendo todo o espaço. Consideramos que os vídeos de brincadeiras analisados não informam às crianças sobre sua singularidade, sendo uma tela-brinquedo-pronto, um objeto que não convoca a potência do brincar por não operar como uma ''experiência de ausência''. Brincar é algo que requer tempo e encantamento. A oferta de objetos eletrônicos e de atividades direcionadas são tão intensas que brincar livremente apresenta-se como um real desafio para as crianças na atualidade. Hoje, vemos o ascendente culto à imagem e a busca constante por referências narcísicas, o que provoca uma anestesia social. Crianças que são apenas espectadoras de seus brinquedos-prontos, tais como os vídeos de crianças no YouTube, estão sendo privadas do brincar.

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