Autodeterminação e neutralidade: indagações a partir da leitura de um texto de Paul Beatriz Preciado
AUTORIA
Adela Judith Stoppel De Gueller
ABSTRACT
Paul Beatriz Preciado, escreve em Um apartamento em Urano: Crônicas de uma travessia, um texto intitulado ''Quem defende a criança queer''? para se posicionar contra os adversários do casamento homossexual e a extensão do direito de casais homossexuais de adotar crianças, assim como ao direito à reprodução assistida. (Preciado, P, Ed. Zahar. RJ., 2020) Entre os adversários, ele menciona: os ''psicanalistas edipianos'', os defensores da família e da ordem patriarcal e os representantes da esquerda socialista, defensores da diferença sexual entre a mãe e o pai. Embora, no Brasil, o ECA, de 1990, não faça restrição para que casais homossexuais possam adotar crianças e a medicina da reprodução assistida, desde 2011, não coloque restrições para casais homoafetivos fazer inseminação artificial, essas novas configurações familiares têm chegado a nossos consultórios e aos equipamentos de saúde mental com angústias próprias e problemáticas complexas. Os psicanalistas somos pegos de calças curtas que desafiam nossos modos de raciocinar. Conseguimos escutar com atenção livremente flutuante esses sujeitos e suas famílias? De que modo entendemos hoje o Édipo e a castração? De que modo se inscrevem os limites e as diferenças para essas crianças? Como elas formulam as perguntas sobre sua origem e que respostas ouvem de seus progenitores? Até pouco tempo atrás os psicanalistas falávamos dos filhos desejados e dos filhos não desejados, e associávamos rapidamente o não desejo parental ao abandono, à depressão, à psicose e ao autismo. Hoje, o desejo dos pais sobre os filhos, tornou-se - ao contrário - uma posição cerceadora da autodeterminação das crianças. Para fugir dessa acusação muitos pais adotam uma posição mais inibida que se rege pelo imperativo de educar para o gênero neutro. O que podemos pensar com a psicanálise da autodeterminação e do desejo neutro, esses dois significantes-chaves dos discursos sobre gênero e sexualidade? Há lugar ali para o inconsciente, para o desejo do Outro? Torna-se fundamental refletir sobre essas questões para ampliar nossa escuta clínica e poder acolher as demandas de atendimento dessas famílias.
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