Tornar-se mãe, pai e filho em tempos pandêmicos: do amalgma à separação

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Corpo, dor, silêncio

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AUTORIA

Denise Serber

ABSTRACT
O período de isolamento da pandemia do covid-19 levou as famílias para dentro de suas casas, para longe da convivência social, das ruas e das praças, impedindo os encontros e as trocas, que naquele momento sinalizavam uma ameaça. De que forma podemos pensar em como se deram os processos de construção da parentalidade ao longo desse tempo, em especial para os pais de primeiros filhos? Partindo da ideia de que para ser pai e ser mãe é preciso “tornar-se pais”, o que se faz por meio de um complexo processo, implicando níveis conscientes e inconscientes do funcionamento mental, esse trabalho pretende discutir como as inúmeras perdas causadas pelo isolamento social agravaram esse processo de construção da parentalidade , já tão enigmático por si só. Com possibilidades restritas de troca, os pais, fechados em seus mundos, tiveram seus dilemas, conflitos, angústias e fantasmas amplificados e muitos buscaram nas redes sociais todo tipo de informação de como “ser bons pais e boas mães”, uma busca idealizada e muitas vezes sem a possibilidade de digestão das mesmas. Estendido a isso observamos pais e filhos vivendo relações amalgamadas sem a experiência de ausência e presença, ou seja sem turnos, aspecto essencial para a constituição da subjetividade e individualidade. O trabalho de Intervenção Precoce partiu das consultas terapêuticas de D.W.Winnicott e foi  desenvolvida por Serge Lebovici apoiada no método de observação de bebê segundo o método Ester Bick. Nesse modelo de trabalho, do lado do bebê está em jogo a constituição de seu aparelho psíquico, enquanto que do lado dos pais ressurgem suas histórias edípicas e pré-edípicas que se atualizam no encontro com seu filho, ou seja, existe uma interdependência estreita entre o funcionamento psíquico do bebê e dos pais. Para discutir esse tema apresentarei o trabalho de intervenção precoce na relação pais e um filho de 3 anos, que não se desgrudava do seu bichinho de pelúcia, masturbando-se constante e intensamente, evitando brincar com as pessoas de sua casa e posteriormente com os colegas da escola quando passou a frequentá-la. Tendo em mente a masturbação infantil precoce como uma possível defesa autística, e as angústias de separação ligadas à identificação adesiva, pude trabalhar o sintoma dessa criança como manifestação de uma dinâmica familiar em que pais e filho não podiam estar separados fisicamente, especialmente no exercício parental de estabelecimento de limites, nem psiquicamente. A partir do sofrimento psíquico encenado por essa criança, ao longo das sessões, pude ajudar os pais a olhar através dos olhos do filho, a ajudar a compreender as ansiedades, necessidades, comportamentos e comunicações dele. Pudemos juntos discriminar as questões dos pais que estavam projetadas sobre ele além de encorajá-los a exercerem suas capacidades na função parental de forma criativa e potente.

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