ABSTRACT

O presente trabalho está inserido no eixo temático do Tempo, pois aborda o referencial do brincar no setting analítico, como a possibilidade da criança construir significados para suas vivências, buscando recursos tanto internos, como externos, para “criar” seu próprio mundo e descobrir como caminhar por ele, seja nas áreas mais iluminadas, seja naquelas sombrias. 

A pandemia deu uma nova dimensão de tempo para todos, em especial para as crianças. O tempo de estar em casa, de ter a atenção dos pais, de ter que encarar longas horas de aulas online, de observar o mundo pelas janelas e varandas. A vivência da deprivação atingiu em cheio os pequenos. O acesso ao mundo lhes foi tirado de forma abrupta, exatamente quando deveriam viver experiências sensoriais e afetivas com o mundo externo. A falta que a escola presencial causou foi enorme para o processo de amadurecimento emocional de uma geração de crianças.       

O objetivo do presente trabalho é o de apresentar o manejo na clínica, a partir de casos clínicos de crianças entre 4 e 8 anos de idade, através da criação e renovação de materiais e cenas lúdicas. As crianças puderam, a partir de diversos recursos (madeira, tecidos, papéis, massa de modelar, etc), construir ambientes / cenários, que traduziam seu novo olhar para o mundo, em como estavam tentando elaborar tantas perdas e faltas, em decorrência da necessidade de isolamento social, no período de Pandemia. Todo o processo de criação revelou-se bastante terapêutico, tanto pela possibilidade da criança de estar no seu próprio tempo, como no manuseio dos materiais, com diversas texturas, tamanhos, formatos. Revelou-se um processo onde diversos aspectos foram sendo, gradativamente integrados. O resultado final possibilitou a elas, inúmeras reflexões sobre seu olhar para si mesma, para sua família, e para o mundo; contribuindo para o processo de amadurecimento e de construção da identidade.          

Palavras-chave: criatividade, amadurecimento, elaboração, brincar.