Uma menina sem voz

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Corpo, dor, silêncio

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AUTORIA

Carisa Almeida Bradaschia

ABSTRACT
O escritor moçambicano Mia Couto escreveu o conto “A menina sem voz” sobre a desesperada tentativa de um pai para ajudar sua filha a encontrar sua fala. O presente trabalho também fala das tentativas de ajudar uma menina a encontrar sua voz. Este trabalho pretende relatar o atendimento no consultório de uma menina de oito anos
que ao longo do tratamento passa a não falar com a analista e como foi as diversas etapas pelos quais o tratamento passou até que finalmente ela passa a se relacionar com a analista. Pretendo abordar as dificuldades contra-transferenciais do atendimento deste tipo de paciente, que usa defesas tão primitivas, tais como o que Gianna Williams (1997) chamou de ''no-entry defenses''. 
Mijolla (2005) descreve que a situação analítica cria uma escuta diferente da vida corrente, seria a escuta no silêncio (o silêncio é uma abertura para o inconsciente), escuta que não privilegia o conteúdo das falas, mas a escuta da voz, escuta do corpo e dos afetos que se exprimem através dele. Mas como fazer para escutar o silêncio? Freud (1912) diz que ''o analista deve voltar seu próprio inconsciente, como órgão receptor na direção do inconsciente transmissor do paciente'' (p. 154). 
Joyce McDougall, (1974) fala que o processo psicanalítico é um processo criativo, que restabelece vínculos separados e forja novos vínculos. Neste tratamento foi necessário sustentar o que Bion (1970), usando a expressão de Keats, chamou de “capacidade negativa”, aguentar ficar no lugar de não saber, não entender sua recusa em ter um contato emocional comigo e aguardar o surgimento de sua esperança de ser compreendida para daí poder entender o que havia acontecido com ela. 
No caso desta paciente o aparecimento de angústia de se separar da mãe, os ataques ao setting, as crises de ansiedade precisaram ser entendidos como sinais de melhora clínica. Quando conheci a paciente ela estava num processo de abandono do uso da mente para entrar em contato com as emoções, embora tenha sido um tratamento longo de mais de seis anos houve uma mudança grande na paciente, espero que este trabalho possa dar uma contribuição a colegas que atuam com pacientes de difícil acesso tais como ela.

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