Freud e a educação das crianças pequenas – A especificidade das meninas
AUTORIA
Luiza Holmes , Ariana Lucero
ABSTRACT
Freud afirma em sua “Conferência sobre a feminilidade” (1933), quanto às crianças, que “é possível enxergar muita coisa nas crianças quando se sabe observar. (...) Considerem quão pouco de seus desejos sexuais uma criança é capaz de levar à expressão pré-consciente ou mesmo comunicar” (FREUD, 2010, p. 275). Ao falar sobre a castração, Freud liga esse momento à masturbação infantil: “Eu quisera ter a oportunidade de mostrar-lhes demoradamente como vem a ser importantes (...) todos os detalhes factuais da masturbação infantil: se ela foi descoberta ou não, como os pais a combateram ou permitiram, se ele mesmo conseguiu suprimi-la. Tudo isso deixa traços permanentes no indivíduo. Mas, por outro lado, estou contente de não precisar fazer isso. Seria uma tarefa difícil, trabalhosa, e vocês terminariam por me embaraçar, pois certamente me pediriam conselhos práticos de como pais ou educadores devem lidar com a masturbação das crianças pequenas” (FREUD, 2010, P. 283, grifo meu). Consideramos essa citação uma importante indicação de como uma associação da psicanálise com a educação de crianças (não meramente com o tratamento de crianças), pode ser uma tarefa desafiadora, inclusive para os professores, que por ventura podem se deparar com algo da sexualidade infantil. Beauvoir destaca que a ameaça de castração se perpetua no menino porque seu pênis é um apêndice visível de seu corpo, “objeto estranho e, ao mesmo tempo, ele próprio” (BEAUVOIR, 1970, p. 68-69). Na menina, porém, a castração já está posta desde o início. Como, então, explicar que, de um modo geral, as meninas sejam vistas como mais bem-educadas que os meninos? Como é produzida essa docilidade de seus corpos? O que a educação escolar tem a ver com isso e como a psicanálise pode nos ajudar a pensar na criação/invenção de novas direções?
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