A INTERSETORIALIDADE NO COTIDIANO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA E NÚCLEO AMPLIADO SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA
DOCUMENTAÇÃO
Tema: Políticas Públicas de Saúde
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AUTORIA
Fernanda Moura Lanza , Edna Mara Mendonça
ABSTRACT
Introdução Os serviços de Atenção Primária a Saúde (APS), que são responsáveis pela coordenação do cuidado na Rede de Atenção à Saúde (RAS), vêm assumindo missão importante para a organização e ampliação da efetividade dos sistemas de saúde (BRASIL, 2017). A APS é influenciada pela relação que se estabelece entre as equipes e a população, que gera a construção da articulação das ações de cuidado, organização do trabalho em saúde e a capacidade de criação de intervenções dos trabalhadores diante as demandas do território (BRASIL, 2017). Dentre as atribuições da APS, a intersetorialidade sugere aos trabalhadores da saúde ferramentas para ampliarem a integralidade do cuidado, responsabilização e resolutividade, como o desenvolvimento da capacidade de escuta e a promoção de espaços de negociação para compartilhamento do saber, além de parcerias com a comunidade e os diversos setores da sociedade numa visão interdisciplinar (OPAS, 2015). Em pesquisas relacionadas a temática, constata-se a potencialidade da intersetorialidade como estratégia de gestão em saúde no que tange ao alcance dos princípios da universalidade, equidade e da integralidade (ANDRADE, 2006; SILVA; RODRIGUES, 2010). Alianças entre dispositivos institucionais, não institucionais e comunidade podem garantir atendimento integral e auxiliar na efetivação do SUS e inclusão social (JUNQUEIRA, 2000; LOTTA; FAVARETO, 2016). Apesar do SUS ter 30 anos de existência faz-se necessário compreender como a intersetorialidade se efetiva na prática, já que foi pensada para se alcançar os determinantes sociais da saúde e, ainda, elencar quais os desafios são identificados na implementação efetiva de ações intersetoriais (PRADO; SANTOS, 2018). Objetivo Compreender a intersetorialidade no cotidiano da Estratégia Saúde da Família (ESF), Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF AB). Método O estudo apoiou-se na abordagem qualitativa, a qual utilizou-se o referencial teórico do Interacionismo Simbólico para suporte à análise do objeto em estudo. O cenário de estudo foi constituído por cinco unidades de ESF e quatro NASF AB de um município de médio porte do Estado de Minas Gerais. A coleta de dados ocorreu no período de fevereiro a julho de 2018 por meio de entrevista semiestruturada aplicada a 59 colaboradores: 36 profissionais da ESF; 20 trabalhadores do NASF AB e três Gestores da Secretaria Municipal de Saúde. O conteúdo das entrevistas foi submetido à Análise de Conteúdo e consistiu na codificação e categorização dos dados obtidos. A codificação foi estruturada pelas “operações de codificação” que deu origem a três categorias temáticas, sendo elas: (1) “As concepções de saúde e a manifestação do cuidado no cotidiano da APS: intrasetorialidade versus intersetorialidade”; (2) “Diálogos intersetoriais em busca da integralidade da atenção: Modos de promoção da intersetorialidade na ESF e NASF AB”; (3) “Intersetorialidade: potencialidades, fragilidades e desafios”. Resultados Constatou-se que a definição sobre saúde trazida pelos participantes diz muito sobre a prática de cada profissional no cotidiano da APS, atribuindo-a ao conceito ampliado ou à concepção biomédica da atenção. Assim, com a ampliação do conceito de saúde há expansão das práticas para outras políticas públicas e/ou parcerias comunitárias, e no modelo biomédico a atuação limita-se à atenção curativa restringindo a atuação profissional em equipe e em rede intrasetorial. A noção de intersetorialidade surge ora como estratégia de gestão, ora como estratégia de cuidado em rede, mas sempre prioriza a integração, parceria, ação conjunta e união de todos os setores para a solução de problemas comuns. Conceitos e recursos que nos conectam ao sentido que os profissionais dão aos símbolos, objetos e pessoas os quais constroem seu mundo social, remetendo ao interacionismo simbólico. Vale destacar que as ações intersetoriais acontecem quando há presença no NASF AB junto a ESF. Os profissionais da ESF convocam apoio aos parceiros do NASF AB para a promoção de ações mais amplas que abarcam outras políticas, muitas vezes impulsionadas pela gestão em arranjos institucionais que favoreçam tais ações, como reuniões de rede, apoio matricial, parcerias com instituições do terceiro setor, ou mesmo com outras secretarias. As manifestações da intersetorialidade se apresentam com os atores da ESF levantando a demanda e convocando o NASF AB para juntos pensarem as possíveis soluções no caso a caso, ou seja, a ESF levanta a demanda e o NASF AB faz os arranjos necessários para formação de rede intra ou intersetorial. No entanto, as práticas intersetoriais são disparadas no cotidiano por demandas pontuais e não a partir do planejamento dos profissionais. Percebe-se certa ausência de planejamento e monitoramento nas poucas ações postas em ato, o que torna premente a discussão do conceito de saúde em seu sentido amplo cotidianamente, pois ações e condutas estão baseadas no meio onde os participantes atuam, convivem e vivem, permeados pelas relações que eles estabelecem. Conclusões Ao longo do presente estudo, encontramos grandes desafios no SUS, mas, o maior deles está relacionado à legitimidade da intersetorialidade enquanto eixo estruturante para o setor saúde: movimento capaz de repercutir em mudanças na organização dos serviços e nas práticas de cuidado. As ações intersetoriais realizadas pelas ESF e NASF AB ainda se apresentam em um processo incipiente e desafiador, e apontam um caminho de proposições para reorientação das práticas no cotidiano de trabalho para potencializar as ações intersetoriais considerando os determinantes e condicionantes do processo saúde-doença. Contudo, as interações cotidianas precisam ser nutridas com o conceito ampliado de saúde para superação das práticas biomédicas, ainda tão presentes na APS. Deve-se ampliar a atuação do profissional para outros Determinantes Sociais da Saúde por meio da produção de rede. Vale destacar que as ações intersetoriais acontecem quando há presença no NASF AB junto a ESF impulsionadas pela gestão em arranjos institucionais que favoreçam tais ações, como reuniões de rede, apoio matricial, parcerias com outras secretarias ou mesmo com instituições do terceiro setor. Os possíveis caminhos para as práticas intersetoriais precisam ser debatidos e fortalecidos devido à difícil operacionalização na prática do cotidiano dos serviços. Palavras-chave: Sistema Único de Saúde, Atenção Primária a Saúde; Estratégia Saúde da Família; Colaboração Intersetorial.
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