PERFIL DE ORIENTAÇÕES SOBRE O JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA NO OESTE CATARINENSE

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Gestão de serviços de saúde

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AUTORIA

Carine Cecconello , Graziele Salcher , Lucimare Ferraz , Diego Boniatti Rigotti , Alexandre Schmidt , Luana Roberta Schneider , Cristina Savian

ABSTRACT
Introdução: O jejum pré-operatório prolongado tem sido questionado devido ao longo período de inanição pelos quais os pacientes são submetidos.  Esse questionamento fez com que protocolos multimodais fossem desenvolvidos com o objetivo de diminuir riscos ao paciente1. O protocolo Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) engloba uma variedade de informações e recomendações que procuram reduzir a morbidade pós-operatória e o tempo de internação hospitalar por meio de assistência qualificada no período perioperatório. A implementação deste protocolo demonstra diversos benefícios e segurança, porém, na prática ainda se encontra bastante resistência na sua utilização, inclusive pelos próprios pacientes2.  Objetivos: Identificar o perfil das orientações sobre o jejum pré-operatório repassadas aos pacientes e suas repercussões.  Métodos: Estudo quantitativo, do tipo transversal com delineamento descritivo. Foram selecionados por amostra aleatória simples 198 pacientes que se submeteram a cirurgia eletiva no período de 11 de outubro de 2019 a 17 de março de 2020, em um hospital de referência no oeste catarinense. Estes responderam um formulário estruturado contendo informações acerca das orientações sobre o jejum pré-operatório. Foram incluídos adultos e idosos sem diagnóstico prévio de comorbidades, que pudessem aumentar o risco de broncoaspiração durante a indução anestésica, e tempo de jejum maior que oito horas. Resultados: A maioria dos pacientes (98%) foi orientada a fazer jejum pré-operatório, tanto para líquidos quanto para sólidos. Destes, 31% foram orientados pelo médico cirurgião, 13% por anestesiologistas e 21% por ambos profissionais e 24% receberam orientação exclusiva de outro profissional (equipe de enfermagem, médico da Unidade de Pronto Atendimento, profissionais da internação e cozinha do hospital) ou ainda através de prescrição médica ou ligação realizada pela secretária do cirurgião.  E, também, 31% dos entrevistados receberam orientação de mais de um profissional. De todos os pacientes, 27% receberam orientação da equipe de enfermagem sobre o jejum, tendo recebido também de outro profissional ou não. 69% deveriam ficar oito horas em jejum, 12% seis horas, 7% doze horas, os demais, entre sete e quatorze horas. Porém, esses pacientes ficaram em média cinco horas a mais que a recomendação repassada pelo profissional. Ainda, um paciente foi excluído destes cálculos pois ficou 39h00min horas em jejum, mesmo tendo recebido orientações. O tempo médio de jejum praticado pelos pacientes foi de 14 horas, sendo o valor mínimo de 8h00min e máximo 39h00min. Discussão: Em uma pesquisa, por sua vez, a maioria dos pacientes foram orientados através de uma ligação da central de internamento e equipe de enfermagem, não sendo o orientador um fator de influência no tempo de jejum, tendo em vista que a orientação repassada era semelhante independente do profissional que a fez3. Outro estudo realizado por Crenshaw e Winslow (2002) apresentou 91% de orientação de nada pela boca a partir da meia noite sendo que apenas 28% foi orientado sobre a importância do jejum adequado4. Ainda, no estudo citado 63% das orientações haviam sido feitas com participação da equipe de enfermagem em contraste com nosso dado de que 27% dos entrevistados receberam orientação de enfermeiros. Os estudos de Imbelloni et al. (2015) e de Doo et al. (2018) demonstraram valores semelhantes de tempo de jejum (13h00min e 12h00min, respectivamente)5,6. Algumas pesquisas apontaram os atrasos nas operações e mudanças de horário como uma das possíveis causas do prolongamento desse tempo7. O estudo de Cestonaro (2013) observou-se que a orientação mais frequente foi de jejum a partir da meia noite, seguida por início a partir das 22 horas e após o jantar3. Conclusão: Este estudo não leva em consideração as razões pelas quais os pacientes que recebem orientação permaneceram em jejum pré-operatório prolongado, sendo, então, uma limitação para demais análises. Sugere-se que novas pesquisas procurem identificar estes pontos a fim de melhorar as instruções de jejum com base em evidências, proporcionando maior satisfação dos pacientes e melhor resposta ao trauma no período pós-operatório. Ressalta-se, ainda, a importância de protocolos de assistência perioperatória em hospitais que forneçam informações sobre o tempo adequado, a importância e os responsáveis pela orientação sobre o jejum em pacientes submetidos a cirurgias. Palavras-chave: Jejum; cuidados pré-operatórios; assistência perioperatória; terapia nutricional; complicações pós-operatórias; cirurgia.

REFERÊNCIAS 

1 Martins, AJC et al. AJC et al. Jejum inferior a oito horas em cirurgias de urgência e emergência versus complicações. Rev Bras Enferm. Brasília, 2016 jul-ago; 69(4), 12-17.

2 Crespo, LV. Aplicabilidade do protocolo ERAS “Enhanced Recovery After Surgery” em Gastrectomias. Trabalho de conclusão de curso (Especialista em anestesiologia), Hospital Federal de Bonsucesso. Rio de Janeiro, 2016.

3 Cestonaro, T. Jejum pré e pós-operatório: o quadro de insegurança alimentar de pacientes cirúrgicos. Tese (Mestrado em Segurança alimentar e Nutricional) - Departamento de Nutrição, Universidade Federal do Paraná. 32 f. Curitiba, 2013.

4 Crenshaw, JT.; Winslow EH. Preoperative fasting: old habits die hard. American Journal of Nursing. 2002 maio; 102(5).

5 Imbelloni, LE; Pombo, IAN; Filho, GBM. A diminuição do tempo de jejum melhora o conforto e satisfação com anestesia em pacientes idosos com fratura de quadril. Rev Bras Anestesiol. Campinas, 2015 mar-abr; 65(2), 117-123..

6 Doo, AR et al. Effects of preoperative oral carbohydrate administration on patient well-being and satisfaction in thyroid surgery. Korean J Anesthesiol. [SI], 2018 out; 71(5), 394-400.

7 Oliveira, KGB et al. A abreviação do jejum pré-operatório para duas horas com carboidratos aumenta o risco anestésico? Rev Bras Anestesiol, Campinas, 2009 set-out; 59(5), 577-584.

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COMENTÁRIOS
Foto do Usuário Carine Cecconello 09-02-2021 09:50:35

Relevante para reafirmar a importância da equipe multiprofissional no atendimento ao paciente cirúrgico

No método, faltou descrever o porquê do período de realização do estudo; em que momento os pacientes responderam o questionário (antes da cirurgia? pós-operatório imediato? na alta hospitalar? no retorno ambulatorial?); se o jejum era realizado com o paciente internado ou se o paciente já internava em jejum no dia da cirurgia. Os resultados apresentam o perfil de orientações, mas não apresenta as repercussões.Os pacientes excederam, em média, 5 horas o tempo de jejum orientado. Esses pacientes mais tiveram complicações clínicas em comparação àqueles que não excederam o tempo de jejum orientado? Fiquei curiosa em saber: Houve algum paciente que fez um tempo de jejum inferior ao orientado? Os pacientes que foram orientados por mais de um profissional receberam as mesmas orientações? Na instituição onde foi realizada a pesquisa, já existe algum protocolo de jejum pre-operatório implantado?

Foto do Usuário Graziele Salcher 09-02-2021 09:50:35

Pesquisa pertinente que pode auxiliar na melhoria do atendimento aos pacientes submetidos a cirurgias.

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