Desencontros na parentalidade contemporânea

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Corpo, dor, silêncio

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AUTORIA

Mariana Peres Stucchi , Carla Alessandra Barbosa Gonçalves Kozesinski

ABSTRACT
Não é raro chegarem na clínica crianças que estão com algum tipo de sofrimento, e na conversa com os pais serem trazidas uma lista de sintomas observados em seus filhos, muitos deles divulgados na internet ou na mídia, em geral relacionados a quadros sérios de problemas no desenvolvimento. Por exemplo, “meu filho é ansioso, fala pouco, fala gritando, não aceita limites, não responde aos outros direito e ficamos preocupados de acharem que não educamos”. Muitas vezes esses pais sentem-se impotentes e narram já terem tentado diversas estratégias de educação que circulam atualmente nas mídias. As falhas aumentam a culpabilização de forma que ‘passam o bastão’ ao psicanalista. Desejam que tudo ali se resolva e alguém cuide do que se passa com aquela criança, uma vez que eles, que querem tudo de melhor para ela, não estão conseguindo. Há um desencontro entre uma necessidade da criança e a dificuldade dos pais a escutar e oferecer os cuidados - ponto bastante delicado se, respaldados por Dolto, pensarmos que a confusão entre reconhecimento da necessidade e do desejo pode levar à psicose (1908-1988). Um nevoeiro de imperativos parece se formar ao redor dos pais que os cegam, ensurdecem e calam. Atualmente vemos que o processo de se tornar pai e mãe vem entremeado por metas externas à história singular daquele casal: há um ‘modo certo’ do filho nascer, alimentar, desfraldar, se relacionar com os avós, educar, etc, etc, etc… Pergutamo-nos se já não começariam desde este momento as impotências daquele casal enquanto pais. Em busca de refletir o que estaria na base desses desencontros retomamos o conceito de parentalidade, termo cunhado por Therese Benedek em 1958. Iaconelli (2021) aponta para o equívoco contemporâneo de associar tal conceito à instrumentalização - e acrescentamos, à mercantilização - da paternidade/maternidade. Curioso que em busca de caminhos para ajudar tais pais, recorremos a autores contemporâneos de Benedek, como Winnicott (1896-1971) que encorajava os cuidadores de crianças a deixarem de lado os ‘especialismos’ e escutarem seus filhos, respondendo a essas demandas a partir de seus próprios recursos internos e biográficos. E Dolto (1908-1988) também importante na psicanálise de criança, pois foi pioneira em escutar a singularidade da criança - ou seja, ela tem algo a dizer por si própria e não se trata de interpretá-la a partir de compêndios. Nesse sentido, nossa reflexão busca a melhor compreensão desse mal-estar presente na parentalidade contemporânea.

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