O luto nas crianças: encontro com o desamparo

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Pandemia, perdas, luto

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AUTORIA

Karina Damião , Mariana Negri

ABSTRACT
Desde o início da Pandemia causada pela COVID-19, houve uma quantidade significativa de pessoas que passaram pela experiência de morte. Com as medidas sanitárias impostas, o isolamento e a ausência de rituais de despedida dos corpos adoecidos, a relação com o processo de luto precisou de novas ressignificações. 
Esse trabalho tem como objetivo elencar a linguagem multimodal com que a criança, diferente do adulto, pode demonstrar seu processo de elaboração do luto e como o entorno pode ser um facilitador ou não desse processo. Com base no estudo de casos clínicos atendidos durante a pandemia, e seus dados qualitativos, analisaremos como a criança em processo de constituição psíquica se utiliza de seus recursos para lidar com os desafios inerentes a perda de um dos genitores e como esse processo pode se dar em seu mundo interno e em seu entorno.
A ruptura de um vínculo por morte traz a dor da separação, às vezes de forma repentina. Quando essa vivência ocorre pela ausência de um dos seus cuidadores, uma criança pode perceber um profundo desamparo e impotência, deparar-se com a ausência de espaço para vivenciar a sua perda, ou ainda, experienciar a ausência desse cuidador como um segredo, o “não dito” que poderá ser caminho para emergir o seu sintoma.
Como falar de morte a uma criança? Como contar sobre adoecimentos? Para a criança, onde fica seu subjetivo e seu tempo de elaboração?
A comunicação à criança caberá ao seu entorno, assim como os cuidados desse processo. À criança caberá encontrar a forma singular para expressar seus sentimentos. O sofrimento da perda precisa ter um lugar. Cabe ao entorno acolher as perguntas dessa criança, escutar os seus anseios, preocupações e, por vezes, garantir que aquela perda não foi ocasionada por algo que ela disse ou tenha feito. O cuidado se faz necessário para a construção de novos significados para a cena.
É preciso falar da morte para entender o que é viver e construir novos valores a partir desse evento de dor. Que discursos ancoram a família? Que redes de significantes sustentam a família? O respeito às crenças da família é importante, pois pode representar um ponto de apoio importante que sustenta “o edifício todo”.
Dizer sobre algo é ressignificar e construir novas relações a partir da rede de significantes. Silenciar é abrir espaços para que faltem novas construções e o sintoma permanecerá atravessado por interdições, proibições, culpa. 
No processo analítico, o sujeito constrói uma narrativa, analisa sua narrativa pelo evento e, então, ressignifica a relação com o mesmo.  O acolhimento do entorno familiar, escutando o genitor sobrevivente e/ou cuidador durante o processo de elaboração e ressignificação da criança, sempre que se mostrar necessário, pode favorecer que novos laços sejam feitos, novas relações construídas ocupem um lugar, enquanto que aquele que partiu permanecerá internalizado, e fará sempre parte da história daquele sujeito.

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