Processo de simbolização diante do horror: um caso de luto infantil

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Corpo, dor, silêncio

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AUTORIA

Shaienie Monise Lima Longano

ABSTRACT
''Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós''. De forma simples e poética, Manoel de Barros associa o luto ao deserto. Algo árido, escasso. Aqui, Manoel parece parafrasear Freud em Luto e Melancolia (1917) que descreve: ''No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio''. Para Freud, o trabalho do luto, diante da perda do objeto amado, implica no remanejamento de investimentos psíquicos, não sem comportar um doloroso abatimento. Para tal, torna-se necessário transformar o não representado, as experiências emocionais vividas no estado bruto em matéria-prima para um trabalho psíquico. Ou seja, poder significar a perda, poder suportar os aspectos ambivalentes e as angústias de culpa que a perda do objeto pode despertar. Assim, a apropriação subjetiva da experiência de perda depende da atividade psíquica do sujeito, a capacidade do sujeito de simbolizar. Na infância, as perdas e traumas podem ser vivenciados  de forma ainda mais dolorosa e desorganizadora, já que a criança se encontra em desenvolvimento psíquico e emocional, necessitando de um ambiente que garanta condições de acolhimento e auxilie a integração subjetiva da dor, e assim, poder recepcionar a comunicação do luto como mensagem. Mas como falar do que se perdeu e não pôde ser representado? Como narrar as angústias inomináveis? O presente trabalho parte destes questionamentos para discutir um atendimento analítico de uma criança de cinco anos, que se depara com um evento traumático da perda trágica do irmão mais velho, de quem era muito próximo, ao mesmo tempo que, por medida de proteção à negligência familiar, é acolhido institucionalmente. Assim, o trauma e o desamparo parecem se enlaçar. Além do terror da morte e da perda da pessoa amada, há marcas disruptivas de continuidade e ruptura dos vínculos afetivos que parecem potencializar o trauma vivenciado. Há um transbordamento psíquico nas sessões, que são marcadas pela sujeira da sala e dele mesmo. A narrativa do evento traumático e do desamparo aparece de forma fragmentada e surge nas entrelinhas de ações sensório-motoras. Sendo assim, o lugar do analista torna-se importante para dar contorno e sentido ao mesmo tempo. E, talvez, num primeiro momento, poder ver o horror juntos, suportar o vazio da experiência para então nomeá-lo, narrá-lo e assim, simbolizá-lo.

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