A pandemia e a maldição da Bela Adormecida

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Tempo

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AUTORIA

Cynthia Da Conceição Tannure , Cassandra Pereira França

ABSTRACT
Na pandemia a ameaça e a realidade da morte se impôs, sem deixar nenhuma rota de fuga para esse destino que nos aguarda, mas que tentamos negar a todo custo. Para as crianças o risco de perder os pais e/ou avós, tornou-se algo possível. Ao lado desse temor, muitas perdas afetivas também foram desencadeadas pelo distanciamento social: o contato com os colegas, com a professora, com os vizinhos. Diante de tantos lutos que tivemos de enfrentar, um fenômeno que chegava à clínica lembrava-nos uma maldição: a Bela Adormecida dormiria por cem anos junto a todo o reino. Condenadas a um sono profundo também pareciam estar algumas meninas que entravam na puberdade. Frente aos dilemas característicos desse período, como o luto pelos pais da infância, a perda do corpo infantil, a  perda da localização temporal, dentre tantos outros, elas dormiam quase todo o tempo, parecendo sentirem-se mortas. Qualquer demanda da vida, como comer, aprender, pensar, parecia uma exigência impossível de se realizar. A força da pulsão de morte parecia silenciar o corpo e o pensamento, levando o analista desses casos a pensar na hipótese de que essas pacientes estariam, de modo paradoxal, tentando controlar o corpo e a passagem do tempo, ao preço de abrirem mão da própria vitalidade. Sobre o analista, enquanto sujeito vivente desse “reino da Bela Adormecida” também se abatia um estado de entorpecimento, através das vias da identificação projetiva. Como reencontrar o fio da vida e tecer uma possibilidade de existir? Onde buscar a esperança de que a pandemia iria acabar e tudo voltar a ser como era antes? O manejo desses casos tornou fundamental retomar as contribuições de autores como Klein, Winnicott, Aberastury e André Green, para compormos, assim, uma narrativa sobre as imagens, projeções, defesas, resistências, e o intenso sofrimento desses pacientes durante as sessões de análise. Torna-se necessário contextualizarmos as mudanças e perdas vividas com a chegada da puberdade, buscando descortinar os mecanismos de defesa, em um turbulento mundo interno assolado pela ameaça à sua preservação, em meio a uma experiência temporal tão singular imposta pela pandemia. Por fim, buscamos encontrar os recursos que dispomos, para que seja possível aos nossos pacientes retomar a capacidade de fantasiar, experimentar o próprio mundo pulsional e suas ligações com os objetos, despertando, desse modo, do sono mortífero em que se encontram. 

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