Sobre a diferença (ou assimetria) entre adultos e crianças no contemporâneo.

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Tempo

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AUTORIA

Renata Lauretti Guarido

ABSTRACT
Reconhecemos nas crianças  uma posição  de intérprete, antes de mais nada, interpretam os adultos e a demanda que a elas dirigem. Parece ainda que as crianças têm uma posição inquietante no nosso mundo, o que se deve ao fato de interpelarem constantemente os laços instituídos, as condições estabilizadas. É partindo dessa condição intérprete e interpelante da criança, e da necessidade estrutural de uma diferença de posição entre adultos e crianças para que algo se constitua como uma subjetividade nascente, bem como se dê algo do ato educativo,  que me interesso pelas condições desta assimetria  em nosso mundo contemporâneo. Essas são as inquietações que animam a feitura desse trabalho, a ideia certamente não é dar conta delas, mas de avançar na delimitação de sua pesquisa  e de seu discernimento. Em sua tese de livre docência Voltolini (2021) afirma:  “É só quando admitimos sua condição de fora-de-serie, ou seja, de  ainda fora da serie que organiza a polis é que podemos ver o valor político da palavra da criança” (pg1) E é porque há valor político na palavra da criança que o autor acrescenta: “Resumindo, devemos levar a sério o que dizem as crianças, não tanto para fazermos disso lei –(...), mas para nos indagarmos a respeito do que ela pergunta.” (pg1). Levar a sério o que dizem as crianças implicou em escutá-las na clinica psicanalítica como sujeitos de pleno direito, como já dizia Marie-Jean Sauret em seu trabalho “O infantil e a estrutura” (1998), mas também escutar aquilo que sobre elas, no entorno delas ou a partir delas nos aparece como um dizer. Para escutar as crianças necessitamos  de alguma diferença de posição e condição em relação a elas, não estamos como iguais na posição de quem escuta. Isso na clínica poderíamos delimitar a partir do conceito de transferência ou da posição do sujeito suposto saber. Mas no laço social, nos laços feitos com as crianças, de qual diferença se trata quando falamos de adultos em relação às crianças?  Essa diferença certamente é uma diferença que se modifica na história, com a história. No mundo contemporâneo, mundo da técnica, do cientificismo, da virtualidade e do neoliberalismo,  temos qual condição para essa diferença? Quais seriam os elementos constitutivos dessa diferença? Em uma fala no Centro de Estudos Psicanalíticos, em 2021, Radmila Zyguris apontava que o mal-estar contemporâneo se apresenta, entre outras coisas,  na dificuldade de pensar na atualidade, tomando o pensar como ação humana afetada na atualidade. Dizia também que a antropologia estaria tratando atualmente de uma  vacilação de grandes diferenças constitutivas do humano - natureza x cultura; homem x mulher -  e,  acrescenta a autora, que também a diferença  adulto x crianças precisaria ser repensada na atualidade. Gostaria de avançar a partir dessa fala de Radmila buscando encontrar algumas consequências do que ela ali apontava ainda como um pensamento incipiente.

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