Parentalidade adotiva, os tempos, os lutos

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Corpo, dor, silêncio

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AUTORIA

Camila Deneno Perez

ABSTRACT
Parece ser consenso, atualmente, que funções parentais não necessariamente precisam ser exercidas por pais biológicos ou por um casal heterossexual. O próprio termo ‘parentalidade’ busca ampliar essa noção; afinal, trata-se de adultos que se dedicam aos cuidados primordiais e necessários a todo ser humano, já que nascemos em estado de absoluta dependência física e psicológica, como tão bem descreve Winnicott. Sabemos também que uma pessoa grávida não é sinônimo de mãe, pois a parentalidade é uma construção que, para além de aspectos biológicos, envolve complexos processos emocionais e simbólicos. Dito isso, não é estranho pensarmos que pode haver uma gestação (psíquica) que antecede a adoção: um período de preparação em que um filho é gestado imaginária e afetivamente – o que pode ou não acontecer em uma gravidez biológica. Em algum momento, se esse filho se materializa – em seu nascimento ou em sua adoção –, há um luto pelo bebê/ criança/ adolescente que foi imaginado e que não é exatamente quem se encontra ali. Em relação aos estranhamentos e identificações, podemos escutar de famílias adotivas: “é impressionante como ele/a se parece conosco, eu era igualzinha quando criança”, e de famílias biológicas: “não me reconheço em nada, nem parece que saiu da minha barriga”. Bem, até aqui, estamos considerando as consonâncias entre parentalidade biológica e adotiva. Podemos, inclusive, falar em parentalidades, no plural, sem distinção entre as duas, o que é válido para sublinhar que, na filiação humana, nem o biológico nem o jurídico oferecem garantia, embora possam funcionar como marcações simbólicas importantes. Há, porém, especificidades da parentalidade adotiva que nos ajudam a elucidar aspectos da parentalidade biológica – esta muitas vezes envolta em uma névoa de romantização ou definições fechadas ditas genéticas –, e é sobre essas especificidades que quero tratar aqui. Em grupos terapêuticos com pretendentes à adoção, circulam e são nomeadas ansiedades e fantasias que acompanham os processos de ser tornar pai e mãe por essa via. É bastante frequente escutarmos, nesses grupos, sobre a lentidão do judiciário e as angústias dessa espera. A partir daí, já decorrem questões importantes: Quanto tempo leva para alguém se tornar mãe? Quanto tempo leva para alguém se sentir pai? Esses processos necessariamente coincidem com a chegada de uma criança? E ainda: que trâmites inconscientes estão envolvidos nos processos de adoção de um filho, seja ele biológico ou adotivo? Não estamos, evidentemente, falando em tempos cronológicos e, por isso mesmo, são questões que nos convidam a pensar em outro registro, rompendo com uma simplificação em relação ao campo da parentalidade, a partir dos entrelaçamentos de tempos, e de lutos.      

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