Entre pedras e letras: nuances da escuta à criança no âmbito da educação

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Corpo, dor, silêncio

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AUTORIA

Amanda Pacheco Machado

ABSTRACT
A chegada ao tratamento é uma das especificidades mais discutidas da psicanálise com crianças. Em um primeiro momento, são seus cuidadores que chegam ao consultório ou o procuram por indicação da escola e outros profissionais, o que torna fundamental, na escuta clínica, identificar se há um sintoma da criança ou se o que se apresenta é um sintoma na criança. Tal trabalho requer ainda mais atenção quando o encaminhamento ocorre de forma interna, ou seja, quando o psicólogo compõe a equipe, como na educação, por exemplo, e o mesmo se origina a partir de outros sujeitos, que não os cuidadores da criança. São condições delicadas que na escuta à demanda exigem uma fina costura entre os dizeres do espaço educativo, da família e, principalmente, do próprio sujeito. Nesse sentido, o presente trabalho pretende discutir as intervenções possíveis no âmbito da educação frente às manifestações de sofrimento da criança. Para tal, será apresentado o caso de um menino de oito anos, a quem chamarei de Emanuel, encaminhado para acompanhamento psicológico por uma coordenadora pedagógica. As queixas sobre Emanuel diziam respeito ao fato de não ficar em sala, ser muito agitado e agressivo com colegas. Na primeira tentativa de aproximação, não deixo de perceber a insistência da coordenadora pedagógica para que ele falasse comigo mesmo diante de sua negativa. Voltamos a nos encontrar inúmeras vezes pelos espaços comuns do local e em cada uma delas, ao me ver, Emanuel grita “não”, sorri e sai correndo na direção contrária. Respeitando a distância colocada, aceno e acompanho com o olhar a sua corrida. Certo dia, no horário de sua saída, ele se aproxima da sala onde eu estava e numa espécie de “cadê, achou”, espia pela porta e logo volta a se esconder. Após recolher o meu olhar sobre sua presença, soma a esses movimentos algumas pedras que passa a jogar para dentro da sala. Uma, depois outra, e assim por diante. Se esperava a advertência do que não deveria fazer, apostei no desenho das pedras como um caminho para chegar até ele e daí se inaugura outro tempo de nosso encontro. A palavra, enfim, é tomada por Emanuel, que a seu tempo, vai contando sua história e narrando não só o seu sofrimento por não saber ler e não conseguir se aproximar do outro, mas também a fragilidade enfrentada por sua mãe para lhe dirigir o olhar e se ocupar de seus cuidados.

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