Impactos da pandemia na educação e a psicanálise como baluarte do sujeito
AUTORIA
Maurício Walter Moura
ABSTRACT
A pandemia de covid-19 – no Brasil, de maio de 2020 até o presente momento - impactou drasticamente os modos de existência, as instituições e a vida pública. No campo da educação não foi diferente, as escolas tiveram que converter rapidamente o ensino presencial no que ficou conhecido como ensino remoto emergencial, realizado por meio de plataformas digitais. A partir da perspectiva psicanalítica e da constatação de um sofrimento advindo desse novo modelo, pode-se dizer que essa mudança não é sem efeitos, especialmente se considerada a centralidade da transferência no processo educacional-civilizatório, em cuja articulação corpo e linguagem tem um papel fundamental na transmissão do saber. O campo transferencial na escola é particularmente rico pelo seu caráter intergeracional, afinal a educação tem a função de tornar humanos os recém-chegados ao mundo, o que só acontece a partir da transmissão de uma produção cultural pregressa e realizada pela presença do adulto-professor, representante desse mundo “velho”. Entretanto, já antes do surgimento do novo coronavírus, alguns discursos já vinham desprezando o valor dessa presença no processo educativo, dando lugar à primazia do conteúdo, da técnica, da tecnologia e do desempenho. Ideias essas que se presentificaram ainda mais pela objetivação do trabalho educacional na pandemia. A psicanálise, junto ao pensamento de Hannah Arendt e Byung-Chul Han, permite-nos questionar alguns reflexos do atual momento na educação, discutindo a noção de progresso e analisando o sofrimento produzido pela redução de seus processos ao imperativo do desempenho. Essa démarche se faz e se fará ainda mais necessária no campo para identificar problemas estruturais ignorados pelo racionalismo, mas que têm levado professores e alunos ao sofrimento e, consequentemente, ao fracasso da transmissão (processo educativo). Fazer furo nos discursos hegemônicos que atravessam o campo da educação é resistir às forças que excluem o sujeito dessa operação.
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